As pessoas não gostam de seu trabalham porque ganham mais. É justamente o contrário, elas ganham mais porque gostam dele.
Ao longo da história o trabalho sempre foi considerado algo penoso, desagradável ou até mesmo prejudicial para o ser humano. Adão e Eva foram “castigados” a ter de trabalhar para ganhar o próprio sustento, a partir do momento em que cometeram o pecado original. Os gregos consideravam-no impuro ou indigno e, como tal, deveria ser relegado aos escravos ou à plebe.
Com a revolução industrial as coisas não ficaram muito melhores, até pelo contrário. Perpetuou-se a sina do indivíduo ter de trabalhar nas fábricas 10, 15 ou até 18 horas, como relatam diversos historiadores da época, para conseguir sustentar a si e à sua família.
A própria palavra trabalho não tem lá uma descendência muito boa. “Trabalho” vem do latim vulgar tripaliun, um instrumento de tortura de três paus utilizado no império romano, conforme citação de Hélio Tadeu Martins em seu livro “Gestão de carreiras na era do conhecimento”.
Nos dias atuais, é fácil perceber o quanto o trabalho é odiado. São comuns as frases que reforçam esse seu caráter, como por exemplo: “quem trabalha muito não tem tempo para ganhar dinheiro”, “eu trabalho como um burro de carga”, “o sujeito trabalha como um condenado”, etc.
Bem, com todo esse histórico, fica mesmo difícil gostar desse tal de trabalho.
Criou-se assim um estigma de que o trabalho é realmente algo mau, de tal forma que todos precisam reclamar do que fazem, do contrário algo não está muito certo.
Considerando que a vida do indivíduo consiste numa equação cujo resultado só pode ser positivo à medida que o prazer seja maior que o sofrimento ou o desprazer, conforme nos ensina Freud em seu livro “O mal estar da civilização”, torna-se quase impossível ser feliz dedicando-se dez ou doze horas a um trabalho que signifique sofrimento ou tristeza.
Por outro lado, o ambiente empresarial tem exigido que as pessoas dediquem-se cada vez mais ao trabalho, seja pelos processos de reestruturações, que reduzem o quadro de profissionais e sobrecarregam quem fica, seja pelo volume de informações, conhecimentos e experiências que precisam ser adquiridos para o sujeito conseguir se manter competitivo no mercado.
Ora, a pergunta que fica é: como se dedicar tanto a algo tão ruim?
A primeira dificuldade que precisa se vencida para quem quer de fato ter prazer em seu trabalho é sair do paradigma de que precisa ser assim, de que não é possível se encantar com seu trabalho e fazer dele algo prazeroso e enriquecedor.
O trabalho pode (e deve) ser um meio de expressão do potencial interno do indivíduo, um meio de traduzir para o mundo sua criatividade, o que ele pensa e sente. Quando o indivíduo consegue materializar-se naquilo que faz, subitamente lhe ocorrem sentimentos de superação e conquista, seus mais profundos desejos de perpetuação parecem realizar-se, o trabalho passa a ter novo significado. A motivação cresce no sentido dele continuar a realizar mais obras.
O segundo desafio é encontrar um trabalho que permita a expressão desse potencial. Isso implica encontrar um trabalho compatível com a vocação de quem o realiza e no tipo de negócio desejado pelo profissional. O resto é muita dedicação.
A essa altura, algumas questões normalmente são colocadas quase que como imperativas a favor do trabalho sem prazer:
Como vou ter prazer no trabalho se o que ganho mal dá para o meu sustento?
Como gostar do meu trabalho se há tantas tarefas chatas que preciso realizar?
Dentro de cada profissão certamente há cargos que são muito bem remunerados, mas chegar lá demanda tempo, investimento e muita determinação de quem quer permanecer na área. Um diretor de marketing provavelmente ganhará uma remuneração bem razoável, mas o mesmo não se poderá dizer do salário de um assistente novato. Se você julga sua remuneração insuficiente, procure analisar realisticamente as seguintes questões:
Qual a remuneração média no mercado para a sua função em seu setor?
Qual a remuneração média para sua função em outro setor?
Quais foram suas realizações nos últimos tempos que justificariam aumentos salariais?
Seu custo de vida pessoal não está acima do padrão razoável para sua posição social?
O investimento em uma carreira exige a administração dos recursos pessoais (tempo e dinheiro, principalmente). Como os recursos são sempre finitos, muitas vezes será necessário sacrificar algumas coisas que gostaríamos de ter ou fazer de imediato e realizar investimentos que só nos trarão resultados no futuro. Isso acontece com o pintor, com o advogado ou com o homem de vendas. Ainda assim, se a vocação está sendo seguida e em seu local de trabalho há espaço para exprimir essa vocação, o prazer de realizá-la continuará existindo.
Quanto à segunda questão, os aspectos desagradáveis do trabalho só existem na medida em que eles não são vistos como integrantes de todo o processo e que têm um sentido importante para o conjunto da obra. As tarefas não são chatas ou desagradáveis pelo que são em si, mas pelo que representam. Um vendedor poderá encarar a o preenchimento de relatórios de visita como a forma de gerenciar o relacionamento com seu cliente e outro poderá ver como a forma burocrática do chefe controlar seu trabalho. O primeiro certamente usará a tarefa para refletir sobre seu contato com o cliente e tirará grandes insights para suas ações futuras. O segundo, vai reclamar muito, praguejará contra o chefe e certamente vai odiar o seu trabalho.
O prazer no trabalho depende basicamente de dois fatores: da forma como o indivíduo vê seu trabalho e do quanto ele consegue exercer de fato seu potencial interno no local e na posição que ocupa.
Ambos os fatores são resultados de escolhas individuais, tanto a forma como vê seu trabalho, como o local que escolhe para exercer sua vocação. É preciso ser maduro para selecionar as melhores opções. Essa é a condição básica para se conseguir de fato ter prazer no trabalho.
Fonte:Texto-Sebastião de Oliveira Campos Filho é graduado em marketing pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), especialista em dinâmica de grupos pela Sociedade Brasileira de Dinâmica de Grupos (SBDG) e mestre em administração de empresas pela Universidade Mackenzie, que há 10 anos desenvolve projetos de consultoria e treinamento relacionados a estratégias corporativas, nas áreas de marketing, vendas e recursos humanos. (Artigo originalmente publicado no site Bumeran) - http://www.occonsult.com.br/artigos.asp?t=10
Imagem: http://room4d.files.wordpress.com/2009/07/021324798001.jpg
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