domingo, 24 de abril de 2011

CHOCANTE, MAS EMOCIONANTE

Nesse final de semana de Páscoa, tive a chance de assistir ao documentário Wasteland, que concorreu ao Oscar de 2011. Trata-se de um filme americano sobre um trabalho do artista plástico Vik Muniz, brasileiro.

Conhecido artista plástico radicado em Nova Iorque, Vik fez uma série de trabalhos a partir de lixo (um trabalho similar ele fez para a abertura da novela Pasione da Rede Globo, encerrada há pouco tempo).

Particularmente sou contra esse tipo de filme, que explora e propagandeia as piores mazelas de nosso país. Acho que, por muito tempo, tivemos uma péssima imagem no exterior; e ainda temos, e esses filmes ajudam a deixar essa nossa imagem como "eternamente dúvida".  Classifico isso na mesma linha do famoso Cidade de Deus, que também concorreu a Oscar e fez muito sucesso (só para dar uma idéia dessa "imagem negativa" que não gosto ver ser propagada mundo a fora, a edição de ante ontem do Zonas de Guerra, um programa da TRU TV que normalmente fala sobre Iraque, Afeganistão e coisas similares, apresentou a vida em São Paulo e seus carros blindados - maior frota mundial, assaltos em semáforo, sequestro relâmpago, etc).

Mas voltemos ao filme.

O filme mostra a iniciativa do artista, que depois de ter deixado para trás uma vida muito pobre em São Paulo e ter feito muito sucesso nos Estados Unidos, em querer  "devolver"  um pouco para a sociedade pobre. Para isso ele idealiza uma série de trabalhos a partir de lixo. Escolhe o maior aterro sanitário do mundo, Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, Rio de Janeiro. É para lá que vai a maioria do lixo urbano da cidade.

O filme apresenta a chegada dele (e equipe) ao aterro, a inspeção inicial e o contato com pessoas da comunidade de catadores. Aos poucos ele vai apresentando esses personagens da vida real, retratando a vida deles, a miséria, a situação indescritível que eles vivem, catando lixo. Algumas surpresas vão aparecendo e entre elas a de maior destaque é, sem dúvida, o Tião.

Tião é presidente da Associação dos Catadores do Jardim Gramacho e um sujeito muito humilde mas de bem com a vida, feliz com sua situação e engajado com a causa que defende. Também se mostra inteligente ao contar como seus colegas (entre eles o Zumbi) são espertos ao separar livros no meio do lixo. Entre os livros lidos, Tião conta trechos do Príncipe de Maquiavel. Imagine só.

O filme choca com tanta pobreza. As cenas das pessoas correndo para "aproveitar" o novo caminhão que chega e começa a descarregar são bem tristes. Para um país que acostumou a ser bem falado no cenário político e econômico mundo a forma, que vai sediar Copa e Olímpiada, essas imagens e a situação retratada, não combinam.

O trabalho artístico gerado a partir de tudo isso, ficou muito bom. O leilão em Londres foi um sucesso (e emociona ver Tião, em Londres acompanhando o leilão). Toda a arrecadação advinda das obras, ajudou muito aquela comunidade pobre. A exposição aqui no Brasil, no Rio, só perdeu em visitantes para uma exposição de Picasso.

Como se vê, há um "certo final feliz", no filme; já que a vida das pessoas retratadas segue com muita dificuldade.

E, quantos outros "Tiões", "Zumbis", "Isis" existem em outros lixões por esse nosso Brasil ?

E todos eles sem a sorte de terem sido envolvidos em um projeto dessa natureza.

O filme deve ser visto. Recomendo. Como disse, é chocante e emocionante.

Feliz Páscoa.



FonteL http://www.tribute.ca/tribute_objects/images/movies/Waste_Land/WasteLand.jpg

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