domingo, 26 de agosto de 2012

UM ÍDOLO QUE "SE VAI"


Meu post de hoje estava planejado desde sexta feira, quando o respeitado THE WALL STREET JOURNAL publicou a matéria (dos jornalistas Reed Albergotti  e Vanessa O'Connell) que serviu de base para esse texto, anunciando que LANCE ARMSTRONG, uma lenda viva do ciclismo mundial tomou uma inacreditável decisão que o levou a perder todos os seus títulos, incluindo os 7 (isso mesmo, sete !) títulos do TOUR DE FRANCE e a ser banido das competições internacionais como ciclismo e triatlo.

Sem dúvida é triste para mim escrever esse texto, pois trata-se de um esportista de alto rendimento e ídolo para mim e muita gente.

Deixa eu começar explicando a razão da tristeza. Como envolvido com ciclismo, mais do que qualquer outro esporte, tinha Lance Armstrong como um grande ídolo. Um sujeito que superou adversidades bem sérias (falo disso mais adiante) e venceu 7 (sete !) vezes o Tour de France; mas a que custo, me pergunto, hoje ? Sou um “romântico” do esporte “limpo” e que vença o melhor. Acredito nas palavras do Barão Pierre de Coubertin, inventor dos jogos olímpicos modernos, de que “o importante é competir”. Já escrevi o quanto me irrita opiniões como do ex-campeão de F1, Nelson Piquet, que celebrizou a frase que o “segundo colocado é o primeiro dos perdedores”. Isso não combina comigo, pois acho e defendo que mais vale superar seus limites e se entregar numa competição limpa, do que a posição que se chega na prova. Pelo menos penso assim !

Isso me tornou uma pessoa que nutre um verdadeiro ódio (palavra pesada, reconheço) pelo doping ou por qualquer tipo de trapaça. Quebrar as regras, ganhar vantagem (qualquer que seja) de maneira desonesta, é algo que me incomoda muito e isso vale em qualquer esporte.

Outro ponto importante e que torna triste escrever esse texto é porque os grandes atletas são exemplos para o mundo, especialmente os jovens e as crianças. Recentemente na olimpíada de Londres, o time de basquete da Espanha foi acusado de entregar o jogo contra o Brasil, só para evitar o time americano antes da final. Perguntado sobre sua opinião, o técnico do time brasileiro, o argentino Rubén Magnano disse que “o Brasil sempre vai entrar em quadra para jogar basquete pois se agirmos diferente, que exemplo daremos aos jovens que nos assistem ?”. Ganhamos aquele jogo e acabamos desclassificados “antes da hora” por ter pego uma chave mais complicada; mas jogamos um basquete sério no torneio. Concordo com ele. Por isso, todo atleta de alto rendimento, que vira ídolo, assume ainda mais responsabilidade pois tem que se comportar muito bem, mesmo fora de seu ambiente de competição. Ele acaba sendo exemplo.

Se olharmos na história e nos rankings dos “maiores ciclistas do mundo”, podemos nos deparar com outras (verdadeiras) lendas, mas com a capacidade de divulgação das mídias modernas (entenda-se Internet, TV a cabo, etc), Lance Armstrong acaba tendo uma visibilidade muito grande, hoje em dia.  O envolvimento dele com a Nike e seu poder de mídia, potencializaram sua imagem ao redor do mundo. Quem não conhece (ou usa/usou) a famosa pulseira amarela (Livestrong) da campanha de ajuda a pesquisa de combate ao câncer idealizada pela fundação Armstrong junto com a Nike ? Segundo a fundação de Lance, só dessa pulseira foram vendidos mais de 50 milhões de unidades. Essa campanha acabou deflagrando a febre de pulseiras coloridas que assolaram o mundo pós 2004, quando a campanha de Lance foi lançada.

Falando dos esportistas. Vale comentar que o maior ciclista de todos os tempos foi Eddy Merckx, nascido em 1945 na Bélgica. Em qualquer site que se busque saber sobre os maiores ciclistas do mundo e da historia, Eddy Merckx vai sempre aparecer em primeiro e isso acontece por sua lista impressionante de títulos. As competições internacionais mais importantes do mundo do ciclismo são Tour de France, Giro d’Italia e Vuelta a España. Para se ter uma idéia, Eddy Merckx venceu 5 Tour, 5 Giro e 1 Vuelta ! Lance, por sua vez, de fato aparece como recordista no Tour de France com 7 vitórias mas nunca ganhou nem o Giro e nem a Vuelta. Veja o link do site http://www.cyclingranking.com/Rankings/Overall.aspx e observe que apesar de sua enorme projeção, Lance Armstrong aparece “apenas” na 17a posição. Esse ranking considera pontos pelo histórico da carreira de cada atleta.

Muita gente conhece a história de Lance Armstrong, mas vou dar uma resumida. Ele começou como nadador e mudou para o triátlon ainda muito jovem. Desde então desenvolveu uma brilhante carreira, tendo se tornado um super atleta com pontuação (no ciclismo) melhor que muitos profissionais experientes (ainda na época de amador). Tudo isso antes dos 25 anos, quando teve detectado um câncer nos testículos que acabou se espalhando pelo abdômen, pulmões e cérebro. Apos lutar contra a doença, Lance se recuperou e voltou a ser um atleta ainda melhor que antes. Quando todos achavam que ele pudesse estar “acabado” para o esporte de alto rendimento, fez uma verdadeira “volta por cima” e venceu 7 edições seguidas do Tour de France (1999,2000, 2001, 2002, 2003, 2004 e 2005).

Num dos esportes mais envolvidos com doping (ciclismo), Lance sempre foi “perseguido” sob várias suspeitas. Durante vários anos ele teria sido testado mais de 500 vezes e sempre considerado “limpo”. Porém as dúvidas sempre pairavam e rondavam o atleta-astro. Mais de uma vez foram levantadas hipóteses de ele ser beneficiado nesses testes, ou ter alguns de seus resultados relevados por conta dos medicamentos que usava relacionados ao câncer, mas sempre havia a afirmação incontestável de sua conduta.

Depois de sua aposentadoria do ciclismo profissional, alguns de seus antigos companheiros de equipe, inclusive o campeão do Tour de 2006, foram acusados de doping e acabaram por colaborar com as autoridades americanas que seguiam investigando Lance Armstrong. Floyd, por exemplo, foi acusado em 2010 e seu titulo do Tour foi cassado.

À meia noite da última quinta-feira, segundo o The Wall Street Journal, venceu o prazo que Lance Armstrong tinha para entrar com sua defesa no processo que a USADA (órgão que monitora e controla o doping nos esportes nos Estados Unidos) move. Esse processo junta-se à outro movido pelo escritório do procurador geral da Califórnia que também investiga (há vários anos) a conduta de Lance. Ao se recusar a continuar sua luta, alegando um tratamento feroz e injusto contra ele (Lance, em nota acusa que “os métodos de ataque à ele, pelas organizações, são piores do que um atleta usar drogas e meios ilícitos para melhorar sua performance”), Lance tem todos os seus títulos cassados desde 1/agosto/1998 e acaba sendo banido de todas as provas olímpicas assim como de qualquer esporte de alto nível, pelo resto de sua vida. Atualmente ele tinha voltado a competir em provas de triatlo.

Essa atitude que ele toma, chocou o mundo esportivo pelo que ela pode significar, afinal alguém que jura inocência, deixar de lutar para prova-la é muito estranho. É claro que eu não posso acusa-lo de nada e caberá às provas que as organizações de combate ao doping tem, provar que ele não agiu dentro da legitimidade durante todos esses anos, mas o fato de “entregar os pontos” nessa batalha, serve de (mal) exemplo para todos que, como eu, o tinham como ídolo de superação num esporte tão competitivo como o ciclismo.

Como disse, por tudo isso, esse meu post é triste. Trata de um esporte que gosto e de um ídolo que “se vai”.



Fontes:
Imagem: AFP/Getty Images


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